Saturday, May 19, 2012

Blogues portugueses na Ásia: o muito bom, o muito mau e o nada


Antes do advento da blogosfera, havia quem pensasse que a Ásia era um inexistente para os portugueses. Havia Macau, umas lembranças de Goa, uns livros sobre Venceslau, umas fotos de Pessanha. Havia, incontornável, o labor muitas vezes acrítico e assistemático, quase torrencial de bom coleccionismo arquivístico que foi o bom Padre Teixeira, que ninguém afeito a estas coisas deixa de consultar. Subsistiam, entre o literário e o ensaístico, os trabalhos de Martins Janeira e Danilo Barreiros.

É certo que dois ou três académicos de excepção, contra a corrente do esquecimento, alargaram horizontes, rasgaram caminhos, saíram da geografia liliputiana do que sobrava do Estado da Índia e são hoje a força que empurra o engenho para os vastos espaços da grande China e da Insulíndia. São eles, importa assinalar porque não têm paralelo, Luís Filipe Tomaz e António Vasconcelos de Saldanha. Na conspiração do silêncio e da ignorância que quis fazer crer aos portugueses que a Ásia estava longe, caíram no pântano as incómodas pedradas de um grande fotógrafo chamado Joaquim Magalhães de Castro. Foi graças a estes que a presença portuguesa não foi tragada pelo esquecimento, que nova leva de investigadores receberam o exemplo e o ânimo para desbravar arquivos. A Ásia das patacas e do exótico foi morrendo e vai ganhando volume uma Ásia séria, académica e com legibilidade mundial, impressa e séria que é a Ásia portuguesa feita de estudos, sem cabaia e sem ópios. Está a morrer, felizmente, a Ásia portuguesa inventada.

A blogosfera ajudou, pois, não sendo um medium académico, substitui a miserável prestação da chamada comunicação social no que à formação e informação de vastos públicos respeita. Lembro, entre o pasmado e o indignado, o atraso com que a comunicação social portuguesa se deu conta da magnitude dos recentes acontecimentos na Tailândia. Durante semanas, entre Março e Abril, com bombas e tiroteio nas ruas, limitou-se a recortar a tendenciosa conta-corrente das tais agências internacionais, facciosíssimas e prostituidíssimas. A blogosfera está aberta a todos e nela todos podem escrever na proporção das suas capacidades. Agora, a Ásia portuguesa já não é só Macau - muito embora Macau ofereça diariamente dois ou três excelentes contributos - mas é Malaca, Japão, a China, mais China, celulóide, mais celulóide, Coreia...
Como em tudo neste mundo, as coisas dividem-se em três grupos: o que é bom e fica, o que é muito mau e vai-se arrastando na lama como o escaravelho estercorário e o nada, que não existe, esteja ou não esteja.

Portugal não acaba em Elvas; diria antes que começa na espuma do mar que se estatela nas areias de Lisboa. Ontem recebi este simpático presente e é ao Nan Ban Jin que dedico estas palavras. Quero que ele aqui esteja em Bangkok para o lançamento do livro.