Saturday, May 19, 2012

Manâmbuas ripademar santanhocos pihamaiáu


Um encontro inesperado no metro de superfície de Bangkok. Ouvi falar português e cumprimentei o casal de sessenta e tal anos. Disseram-me que aqui estavam desde anteontem, que são naturais de Lisboa mas que estão estabelecidos em Luanda. Em menos de cinco minutos, entre a Estação de Siam e Asók, foi um desfiar de ditos idiotas sobre Portugal, referências à "independência", ao "presidente Neto", ao "colonialismo", à exploração "vergonhosa que os portugas" (sic) por lá fizeram, à "democracia" e aos meninos do Huambo, os tais que "Vão aprender coisas de sonho e de verdade, Vão aprender como se ganha uma bandeira, Vão saber o que custou a liberdade". Foi como um murro no estômago. Depois, olhei e vi que os dois não passavam de criaturas semi-cretinas, da tal geração que afundaram o país e que agora estão em África porque pinga e não por qualquer outro elevado propósito. O homem deixou para o fim, como quem mostra a medalha, a sua palma de ouro: "sabe, eu não fiz a guerra, com muito orgulho. Desertei". Ao afirmá-lo, um brilho de orgulho assomou-lhe à íris. Que lição de sacrifício e cidadania. De facto, enquanto a biologia não tratar de vez dessa maldita geração dos sorridentes idiotas, nada feito.

Depois, só me lembrei daquilo que sempre ouvi da minha mãe: "manâbuas ripademar, santanhocos pihamaiáu". Querem saber o que quer dizer ? Pois, abram um dicionário de calão ronga-português. Ao sair, disse: "sabem, eu sou de Moçambique, África Oriental Portuguesa e lá tenho enterrados bisavós, avós e todos os meus sonhos e ilusões a respeito das liberdades, das independências e da vossa geração". Saí e nem me virei. Eu sei, tenho mau feitio e já não me calo nem perante o Papa.