Saturday, May 19, 2012

Sagres recebe Banguecoque a bordo


A Sagres está em Banguecoque e merece a atenção dos tailandeses. Com bandas, presença das autoridades governamentais e dos nossos embaixadores, a iniciativa inscreve-se no quadro das celebrações dos 500 anos da chegada dos portugueses ao Sião. No cais, aguardava o navio escola um rancho de crianças luso-descendentes oriundas dos bairros católicos da capital. É um grupo que está a criar furor entre as crianças de Thonburi. Os miúdos gostam dos fatos portugueses, gostam das danças e já pedem aos pais que os levam semanalmente às aulas de dança. É trabalho que deixa em Banguecoque a embaixatriz Maria da Piedade e que deve ser continuado. A comissão criada para receber a Sagres é inteiramente constituída por "Protukét" de Banguecoque e dirigida por um oficial da marinha de guerra tailandesa, católico que há anos enviou o filho a Portugal para ali estudar a nossa língua.
É a primeira vez que um vaso da marinha portuguesa visita a capital tailandesa desde 1893. Infelizmente, as relações entre os dois países, tão antigas como a presença portuguesa na Ásia, têm sido caracterizadas por gritante como injustificada falta de pontos de aplicação, não só no que às relações comerciais respeita, mas em todas as áreas onde seria possível desenvolver parcerias de interesse mútuo. Aqui, onde o nosso nome evoca grandes e decisivos momentos em que esteve em jogo a independência dos thais, há que construir pontes e abrir caminhos de cooperação. A Tailândia é uma velha aliada, é a única democracia de facto na região, o seu alinhamento com o Ocidente é irrepreensível, possui infraestruturas para a fixação de empresas portuguesas no Sudeste-Asiático e mercado com massa crítica capaz de absorver importantes segmentos da nossa produção industrial, agrícola e serviços. Dizia ontem a um amigo tailandês que ocupa relevante posto no MNE que 2011 pode ser o recomeço ou o fim das nossas relações. O argumento da crise económica e da penúria orçamental nada pode justificar, pois que ao Estado português cumpre tão só incentivar, divulgar e facultar apoio a todas as iniciativas do sociedade civil e todo esse apoio não envolve verbas, mas a aplicação dos meios existentes. Quanto à Tailândia, tem feito tudo quanto pode para, sem agressividade, exibir vontade genuína em aprofundar as relações, esperando retribuição portuguesa.