Saturday, May 19, 2012

Monstrozinhos saídos da proveta do regime


Uma chuva diluviana. Local: a paragem de autocarros. Chegou uma mulher molhada até aos ossos transportando ao colo uma criança recém-nascida envolta num pequeno cobertor axadrezado que pingava. No banco, sentadas e conversando aos berros, com palavrões à mistura com os "baris" e os "tás a ver?", três miudoscas com atavios de "boas marcas" - possivelmente vivendo nas torres das Amoreiras - recebendo consecutivas chamadas do Luís, do Afonso, do "Dênis". Olhando com absoluta indiferença para aquela mulher transida de frio, ali se mantiveram na converseta carregada de pulsões hormonais discorrendo sobre os Luíses, os Afonsos e os "Dênis". Não me contive e perguntei se não tinham reparado que ali estava alguém com uma criança de um mês ou dois. Uma das fedúncias, a muito custo, levantou o enorme traseiro willendorfiano e disse "então, sente-se se quiser". A paragem estava cheia e ninguém ousou proferir a mais pequena migalha de reprimenda.

De facto, estas meninas são o produto de trinta e tal anos de deseducação, desprezo pelas convenções mais elementares de um sistema de ensino que forma criaturas semi-letradas, gananciosas, egoístas e maus cidadãos. Os outros, os adultos a quem cabia dar-lhes a lição de civismo, transformaram-se em cobardes amargurados. São trinta e tal anos de regime. Regressei ao neolítico.