
Os jesuítas terminavam as suas missivas com expressões de chocante humildade. Para quem, burgueses como nós, sempre em busca da "personalidade", cultivamos até ao ridículo o individualismo e o único, o distinto e o irrepetível existente em cada ser humano, o florilégio de frases de despojamento dos jesuítas surge como insulto. Eu já me deixei dessas fantasias românticas. As pessoas são quase todas iguais; ou antes, dispõem-se por categorias: há-as muito más, absolutamente irrecuperáveis; há-as más mas dominadas e auto-dominadas por medos ideológicos, teológicos como profanos; há-as medíocres, incapazes de discernir e sobretudo incapazes de agir e há, também, criaturas boas e bem intencionadas. Pois bem, sugiro que, em vez do vazio "atentamente"e do tolo "com os melhores cumprimentos", terminem as vossas cartas com uns deliciosos "mínimo, servo e súbdito", "mínimo e obsequioso servo" ou "servo penitente humilhado". Ora, se o destinatário for um ministro, um secretário de Estado ou um alto quadro administrativo dirigente vai ficar aterrado e sentir-se-á, mais que lisonjeado, tremendamente aflito e disponível para aceitar todo e qualquer pedido que V. lhe faça. Tente e verá.