Saturday, May 19, 2012

Servo penitente humilhado


Os jesuítas terminavam as suas missivas com expressões de chocante humildade. Para quem, burgueses como nós, sempre em busca da "personalidade", cultivamos até ao ridículo o individualismo e o único, o distinto e o irrepetível existente em cada ser humano, o florilégio de frases de despojamento dos jesuítas surge como insulto. Eu já me deixei dessas fantasias românticas. As pessoas são quase todas iguais; ou antes, dispõem-se por categorias: há-as muito más, absolutamente irrecuperáveis; há-as más mas dominadas e auto-dominadas por medos ideológicos, teológicos como profanos; há-as medíocres, incapazes de discernir e sobretudo incapazes de agir e há, também, criaturas boas e bem intencionadas. Pois bem, sugiro que, em vez do vazio "atentamente"e do tolo "com os melhores cumprimentos", terminem as vossas cartas com uns deliciosos "mínimo, servo e súbdito", "mínimo e obsequioso servo" ou "servo penitente humilhado". Ora, se o destinatário for um ministro, um secretário de Estado ou um alto quadro administrativo dirigente vai ficar aterrado e sentir-se-á, mais que lisonjeado, tremendamente aflito e disponível para aceitar todo e qualquer pedido que V. lhe faça. Tente e verá.