Saturday, May 19, 2012

Cercados de graças e podres no centro


Uma história trágica, misteriosa, sinistra por vezes na impiedade com que as elites que nos governam parecem tudo fazer para afundar o direito à felicidade daqueles que aqui ficaram nas praias à espera do barco para o exílio, para a emigração ou para o império. Houve sempre, na 25ª hora, quando todas as portas pareciam fechadas e o triunfo da morte se anunciava, um recobro de energia ou um milagre. O milagre pode estar aí, a minutos da costa, em inexauríveis lençóis de ouro negro que as companhias de prospecção dão como certos. O milagre pode chegar amanhã sob a forma de um mandarim de óculos fundo-de-garrafa. Pena tenho que tudo isso, a acontecer, venha caucionar a madracice de um povo que desaprendeu a arte de ser grande, lançou para um canto a sua vocação marítima e imperial e mantenha no poder uma geração de governantes amadores, semi-letrados e irrelevantes que não mereciam o poder nem o conquistaram.

Já estou suficientemente experimentado para saber como seriam aplicadas as receitas do ouro negro, como sei que a compra da dívida pelos chineses terminaria com mais empréstimos, mais endividamento e mais despesismo. Dizia ontem Pacheco Pereira que o BE e o PC querem uma revolução. Talvez tenham razão, pois basta andar pela rua para nos apercebermos que é isso precisamente o que querem os portugueses: uma revolução. Eu não pediria uma revolução de rua, nem da base para o topo, nem do topo para a base, mas uma revolução na cultura democrática, na transparência, no serviço público, no amor da pátria, do seu passado como da sua destinação; em suma, pediria pouco menos que o impossível. Mas tenho fé, pois a razão há muito me contou o final da história. Que venha o milagre !