Saturday, May 19, 2012

O paraíso deve ser tropical


O inferno, para os cristãos, é uma caldeira, tal como o nárók o é para os thais, com a atenuante de não ser eterno. Para os muçulmanos, o zamhareer, o círculo mais duro da condenação, é gélido. Contudo, que eu saiba, o paraíso de todas as religiões assemelha-se: é frondoso, abundante, ameno e sereno. Pensei nisso várias vezes, pois o além é imaginado como o melhor local onde se pode viver para sempre; logo, reproduz a ideia de ambiente mais querida pelas pessoas. Eu, que nasci em África, abomino o clima europeu, seja o continental - com as chuvas gélidas do outono, o frio cortante e seco dos invernos escuros, os verões irrespiráveis, as torrentes primaveris - seja o "atlântico". Pensar que terei de passar o próximo inverno em Portugal deixa-me apreensivo, pois tenho ido visitar a família no verão e nem sinto a diferença.

Aqui, o calor é permanente, mas há coisas espantosas que se podem fazer para o combater. Por exemplo, ontem estive toda a noite acordado a dar os últimos retoques num trabalho. Às cinco da manhã desci as escadas e meti-me na piscina. Água morna do solão da véspera. Umas braçadas, seguidas de um duche e pequeno almoço. Depois, ventoínha de tecto em máxima rotação e um sono de oito horas. Acordei às 3 da tarde e fui comer à beira do Chao Phraya, no restaurante do hotel ao lado da nossa embaixada. Refeição terminada, voltei a casa e sentei-me no pequeno jardim. De súbito, o esquilo da árvore desceu até uns dois metros da minha cabeça e falámos durante uns minutos. É esta a maravilha dos trópicos: viver numa cidade de 10 milhões com direito a esquilo privativo e uma piscina fresca às cinco da manhã. Na Europa, se contasse, dir-me-iam que estava louco.