Saturday, May 19, 2012

É o mar meus senhores


Abriria mão dessas brilhantes tradições recentes do futebol, da gravatinha pequeno-burguesa e das gestões se o mar voltasse a ser o destino nacional. Sem o mar, nunca teríamos sido; sem o mar, a Europa dos bantustões e das microgeografias, das guerras por 2x5 km2 e dos campanários sem horizonte ter-nos-ia atraído para o destino dos povos insignificantes e não teríamos sido mais que austurianos, leoneses ou galegos. Foi o liberalismo caseiro, com a tentação da lojeca, da caixa segura e da vida quieta -a ambição da burguesia - que nos encheu de pavor pelo mar. Antes, havia portugueses por todos os mares, servindo sob todas as bandeiras, arando e ultrapassando oceanos. Depois, desapareceu o mar, acabaram os pescadores, os marinheiros, as redes e os batéis e Portugal passou a ser império sem marinha, antes de ser ponta rochosa de um continente fechado à aventura, ao risco e ao trágico. Submarinos ? Só dois ? Devíamos ter 10. Com a quase certeza do retorno do mar - logo que a Europa se finar e o Brasil nos estender a mão - há que explicar aos portugueses que Portugal (isto é, Madeira, Açores, Cabo Verde, S. Tomé, o Brasil e Timor) só poderá ser se for 8 partes de água, uma de sofrimento e outra de aventura.