Saturday, May 19, 2012

Micrómegas


Há qualquer coisa de revoltante na forma como alguns portugueses cultivam o miserabilismo. O partido anti-português de Portugal, amiúde recrutado entre os auto-proclamados intelectuais, tem como bandeiras o amesquinhamento de tudo quanto aqui se faz, o sorrisinho trocista, a trágica confusão entre o plano interno - com os seus ódios caseiros e partidários - e a representação da imagem externa, chegando a atingir proporções de deliberada traição, não fosse o insignificante de quem a produz. É uma tara, um comportamento compulsivo, este prazer em reduzir, apoucar, maldizer. Dei-me ao trabalho de visitar meia dúzia de blogues de "direita" e de "esquerda" ditos de referência e cheguei à triste conclusão que pouco os separa no azedume, auto-flagelação e boçalidade roncante sempre que Lisboa serve de palco para eventos de primeira plana e enche as manchetes internacionais. Sim, eles só toleram que de Portugal se fale nas voltas do esférico ou na iminência da bancarrota. Preferiam que fosse Madrid, Budapeste ou Tirana a receber o Tratado da União, que o presidente chinês fosse a Dublin, que Obama e o Ocidente se reunissem em Las Palmas, que fosse a Finlândia ou a Bélgica o obter o tal lugar no Conselho de Segurança. No fundo, os maiores inimigos do país são estas criaturas açuladas por um ódio doentio a tudo que prestigie, eleve e promova a ideia da centralidade de Portugal no quadro geopolítico mundial. A fatalidade do "intelectual" provinciano, de súbito confrontado com o contraditório do país pequeno, periférico, pobre e entregue a quizílias pouco menores que o buraco de uma agulha é esta. A função do "intelectual" português é a de dizer mal, se possível o pior, de tudo aquilo que deste a maldita geração de 70 lhes enche o cardápio de desculpas. Querem o país isolado, invisível, insignificante, pois a diferença de escala amedronta. Em Lisboa, quando tudo se reduz ao vazio preenchido pelo nada e pelos Ómegas caseiros, sentem-se como a bactéria na caixa de Petri: livres, desenvoltos e tirânicos. Contudo, mal aterra um avião com alguém que meça mais de um metro e trinta acordam dos fumos e desorientam-se, competindo cada barata pelo lugar no pódio da melhor contorção agónica.