Saturday, May 19, 2012

Sião latino e Sião americano

Foram vinte, trinta, quarenta ou mais os italianos que marcaram para sempre a face da moderna Banguecoque. Escultores, pintores, arquitectos e decoradores, ceramistas e vitralistas deram à capital do Sião, já de asfalto e trens eléctricos, os cinemas, os teatros, grandes hoteis e a aura de confortável magia que garantiu o sucesso do turismo desde os anos 20 do século passado. Já aqui deixei dois apontamentos, um sobre Galileo Chini, outro sobre Corrado Ferocci (aliás Sinlapa Bhirasi). Nos últimos dias tenho andado entusiasmado com um outro notável italiano que aqui deixou obra imensa. Gerolamo Emilio Gerini era militar e aqui chegou com um contrato do governo siamês para prestar assessoria militar. Inteligente, culto e desenvolto, aprendeu thai, interessou-se pelas artes, pela história, arqueologia e tradições orais, transformando-se num perito de sânscrito e estudos budistas. Foi um dos fundadores da Siam Society e marcou sulco profundo. Escreveu muito e fê-lo como ninguém. Que eu saiba, foi o primeiro a tocar nas pedras do mú bâan (aldeia) Protukét de Ayutthaya e, depois retirou do esquecimento a comunidade Protukét de Pukhet, estudo que aconselharia a qualquer interessado nestas coisas da presença portuguesa no Sudeste-Asiático.
Que diferença entre a potência do espírito latino, a sua entrega e amor a esta terra e a esta gente e aquilo que sucessivas gerações de americanos aqui deixaram. Com excepção de Jim Thompson, que foi o artífice da produção industrial da seda tailandesa, os americanos aqui não deixaram nada que mereça atenção; pior, como me dizia há tempos um embaixador, os "americanos foram a maior desgraça que aqui aconteceu". Diferenças !
Quando é que termina a era americana ?



Vivere – Tito Schipa