Saturday, May 19, 2012

Os passaportes de SAR


Com a sincera advertência de ser um dos meus predilectos, não posso concordar, perdoe-me o confrade Laranja, com o seu desabafo sobre o Senhor Dom Duarte. Julgo que Bic Laranja, boa pluma e homem culto, quis dizer algo diferente, mas há dias em que não nos conseguimos exprimir com felicidade.

O Chefe da Casa Real solicitou ou vai solicitar as nacionalidades timorense e brasileira. Ora, se em tal pedido parece haver algo de incorrecto é a modéstia com que o faz e a inibição em terminar o raciocínio. Se eu fosse SAR, requeria também as cidadanias cabo-verdiana, são-tomense, angolana e moçambicana. Sei que os portugueses cairam na falácia de se pensarem "europeus" e muito "patriota" por aí se ufana de conhecer melhor as narrativas heróicas de galos, teutões e italiotas que a coisa portuguesa. Sei que, sentindo-se europeus, gostariam de um Portugal no braço de ferro com as Burgúndias, as Morávias, as Alsácias e Lorenas, mais as Silésias e os Wurtembergs. Portugal é mais que isso: mais que a soma de todos os bantustões que fizeram rolar tantas cabeças e pelos quais a Europa se esvaiu em sangue ao longo de séculos. Eu não sou europeu, pois nasci em África e sou portador, naturalmente, dos dieitos jus sanguinis e jus solis a ser maçambicano. Só não tenho a dupla-cidadania porque a minha terra foi declarada independente sem plebiscito, sem referendo, sem negociações e eu, com toda a família - pais, avós, bisavós - metidos num avião e despejados em Lisboa, que é a capital da nossa nação, mas não é a minha pátria.

Depois, incomoda-me que a nossa direita tivesse feito à esquerda o favor de se tornar racista, quando a história da liberdade e independencia portuguesas só se explica no Brasil, na Ásia e em África. A direita portuguesa - a mais incongruente, estúpida e iletrada da Europa - anda há 200 anos a fazer favores a todos quantos diz detestar; logo, perdeu todos os combates e ofereceu em terrina o manjar das "boas causas" à sinistra. Não me incomodou o texto de Bic Laranja, mas os comentários, que de tão roncantes e baixos só deslustram aquele que é um dos mais nobres, elegantes e simpáticos blogues portugueses.

O meu sonho é o passaporte da Confederação de Estados Lusófonos. Que tremendo coice naqueles que me privaram da minha condição natural de português africano !