Saturday, May 19, 2012

Novíssimas do Sião: a siamesa da Évora quinhentista


Graças a uma conversa absolutamente fortuita com um amigo investigador, estamos a milímetros de destruir um lugar-comum que se trombeteava pelas holandas desde há séculos. Em 1608, um galeão holandês comandado por Corneluis Matelief trouxe à Europa uma embaixada siamesa enviada pelo rei Ekathotsarot. Recebidos por Maurício de Nassau, os diplomatas permaneceram na Haia rodeados por viva curiosidade. Muito se tem escrito sobre esses "primeiros siameses na Europa de Seiscentos" e há dois anos, em Banguecoque, foram esses fastos lembrados em exposições e conferências por altura das celebrações milionárias dos quatro séculos de relações entre a Tailândia e a Holanda.

Um pequeno senão. Os holandeses receberam siameses, sim senhor, mas quase trinta anos depois de uma rapariga thai ter saído dos porões de uma das naus da carreira da Índia para aqui passar o resto das sua vida como escrava "Índia de nação sioa" ao serviço de uma casa nobre. Foi baptizada, recebeu nome cristão e viveu em Évora. Mais uma pequena pedra para o sempre incompleto como fascinante edifício da história das relações entre os dois países.