Saturday, May 19, 2012

Nepotismo e fisiologismo


A tendência para oferecer a familiares cargos públicos pode ser interpretada de duas maneiras: ou como um abuso de favor, violando o princípio da separação entre a esfera do privado e o do público; ou uma defesa para quem ocupa cargos e requer apoio e lealdade só garantidos pela comunhão do sangue. Não devemos ser excessivamente impiedosos para quantos, indicando um irmão, um primo ou um cunhado para um cargo de assessoria, se justificam com o argumento da segurança e inviolabilidade do segredo inerente ao exercício de funções políticas. O nepotismo é natural, isto é, faz parte intrínseca da natureza social do homem. Tenho para mim que, se um irmão, um primo ou um cunhado possuírem assinaláveis qualidades de mérito e inteligência, a sua nomeação facilita ab initio o bom sucesso do posto de quem o nomeia.

Contudo, persiste uma lamentável confusão entre nepotismo e fisiologismo, comumente chamado compadrio. Trata-se de coisas absolutamente diferentes, pois se o nepotismo moderado pode ser benéfico, o compadrio só se justifica na apropriação de cargos públicos para favorecimento de amigos sem benefício para terceiros. O fisiologismo é um abuso, pois sabendo que fulano, cicrana ou beltrana são imbecis, incompetentes, falhos de escrúpulos, madraços, inúteis, persistir na sua nomeação é ferir mortalmente os lugares que lhes foram oferecidos. O fisiologismo confunde tudo, até a finalidade e o múnus da função. No fisiologismo, todas as medidas tomadas - e até os cargos criados - se realizam sem outro fito que o de prover um lugar, meios e riqueza a uma pessoa, passando por cima do interesse público e fazendo das instituições empresas de lucro para grupos informais parasitando o Estado. Há mil e um exemplos de fisiologismo conhecido nesta terceira república. Pessoas há que nomearam a mulher, filhos, sobrinhos e amigos para lugares, impondo a sua eleição para cargos oficiais sem outra justificação, sem a simples exibição de um curriculo. Como o Estado morreu, tudo se centuria como um troféu de conquista; como o serviço público não passa de uma grossa mentira, as instituições servem, apenas, para prover lugares e as políticas para favorecer amigos.