Saturday, May 19, 2012

O meu 2010: um ano para não esquecer


Irlanda, 15 de Setembro de 1916 - 30 de Dezembro de 2010
Não sou nem pessimista nem fatalista e não cultivo amarguras. As maiores provações e sacrificios, quando não matam, fortalecem. Nisto, sou muito pouco meridional ou, se quiserem, pouco semita. A vida está aí para se viver, para fazer coisas e seguir sempre, sem abatimento e sem rendições, no caminho para que as nossas ficções-dirigentes nos empurram. Este ano, agora a exalar os últimos ais, foi dos mais intensos e marcantes da minha obscura existência. Acompanhei de perto uma revolução que o não foi, assisti ao levantamento e resistência de um povo à escalada totalitária comunista-plutocrática e percorri meia Banguecoque a ou no dorso de uma motocicleta a recolher notas e fotos dos combates. Em Outubro, dei por terminado o meu primeiro livro sobre o Tratado Luso-Siamês de 1820, já o no prelo, e tenho passado estes últimos dias em casa - preso por operação cirúrgica - a preparar o meio milhar de páginas da tese de doutoramento sobre as relações entre Portugal e a Tailândia, que penso poder concluir pela primavera.

Hoje, tomou o telefone. O meu pai, informando que a nossa avó Irlanda falecera. Não tenho palavras nem consigo qualquer exercício de estilo. É um pouco de mim que morre com esta extraordinária fonte de alegrias para toda a família, a nossa Avó. Curioso. Ao terminar a chamada, senti um arranhar na porta da entrada e abri. Entrou um gato grande e gordo que saltou para cima do sofá e ocupou a casa.