Saturday, May 19, 2012

Terrível justiceiro: um dos maiores portugueses vivos falou por nós, os que não têm voz




Tenho dito e repetido a um dos meus maiores amigos: "emigre já, saia, aqui ninguém respeita ninguém, os espíritos superiores estão condenados a morrer emparedados". Sei do que falo. "Não vale ultrapassar", é o lema. Os medíocres, os patetas arrogantes, os despenteados mentais, todos ligados em redes de corrupção, invejosos e impiedosos, não deixam o ar entrar, matam tudo que tenha duas pernas e mais de 50 cm de altura.

Cansado de ler sobre as politéias do Sudeste-Asiático, os Reis-Deuses de Angkor e Ayutthaya, levantei-me da mesa e liguei a televisão. Surgiu-me na pantalha Rentes de Carvalho, talvez um dos maiores portugueses vivos, que trocou a Holanda por Portugal para poder continuar a ser português. O homem falou com a habitual modéstia e simpatia e foi atroador: dissecou o cadáver deste país, afirmou que vivemos do chupismo, que aceitamos que nos cuspam em cima conquanto caiam umas moedas, que Portugal devia reaprender a ser pobre - a boa pobreza, que a há, medieval e espiritualizada, sem jipões e gente semi-analfabeta metida em fatecos - e afirmou que a revolução fora um desastre, o politicamente correcto uma infâmia e as inquisições só mudaram de nome. Em vinte minutos - que não foram censurados, pois não podiam censurar - empurrou-me para a decisão inabalável de, uma vez mais, sair. Vale a pena por cá ficar? Sinceramente, não.

O que nos pode amarrar a uma sociedade onde nem as mais elementares regras da cortesia são respeitadas, onde uma carta oficial não é respondida, um gesto amável interpretado como um incómodo para quem o recebe ?