
Bastou fazer um pouco de caricatura sobre os EUA e sobre o "tipo ideal" de americano para que se levantasse um coro de inflamados zelotas, num clamor proporcional à caricatura que intencionalmente pintei. É, para alguns fascinados pelo dinheiro, nos EUA não se toca, mesmo sabendo - e nisso faço vénia à cultura média literária de cada um - que os mais importantes vultos lá nascidos ou crescidos (Mark Twain, Dreiser, Pound, Eliot, Dos Passos, George Santayana) disseram precisamente aquilo que me limitei a repetir. O seguidismo pró-americano, uma infantil mistura de fascínio do candidato a emigrante siciliano, polaco ou açoriano pela "terra das oportunidades", mais o gosto pelos clichés anos 50 e 60 (grandes carros, casas com jardinzinho arrelvado, optimismo, grandes planos), somado ao "espírito guerra fria" deu nisto: uma defesa quase histérica da América. Tudo me faz lembrar os tempos da "Ónião Sóviética" e seus turiferários. A América é assim: não nos dá nada, nunca teve para connosco o mais leve movimento de solidariedade, nada nos compra, limitando-se a lançar umas migalhas em bolsas PhD aos áulicos da religião plutocrática que aqui dá pelo nome de "liberalismo". De resto, invada, polua, não assine convenções e cartas internacionais, bombardeie, mande assassinar, tudo isso é para a defesa do socialismo, dos trabalhadores e da paz e amizade entre os povos...ops, perdão, da democracia, da liberdade e da luta contra o terrorismo.