
"Eu sou civilizado, tu és bárbaro: logo, dá cá primeiramente o teu ouro e depois trabalha para mim. (...) Tu não tens canhões, nem couraçados; logo, és bárbaro. (...) Este tem sido o verdadeiro Direito Internacional desde Ramsés e o velho Egipto. Que digo eu ? Desde Caim e Abel".
Eça de Queirós, Ecos de Paris , Porto, Lello, 1945.
Na Líbia, com impudícia, o poder nu - não completamente nu, mas indecentemente trajando a curta e quase pornográfica lycra da democracia - vai de parada em parada exigindo mais e mais. É como a guerra franco-siamesa de 1893, que Eça com soberba ironia acompanhou. Em nome de coisas sagradas bombardeia-se para roubar. Lembra-nos o famoso caso diplomático franco-português a respeito da apreensão na costa de Moçambique pelas autoridades portuguesas do navio negreiro Charles et Georges. Paris respondeu violentamente e eriçou-se de pudores, afirmando que os negros que a bordo seguiam de mãos atadas atrás das costas estavam nesses preparos de livre vontade. Vejo aquela gentuça arrebanhada por britânicos e franceses, aqueles ministros feitos num vão-de-escada e sinto vergonha. Ainda se fosse um imperialismo à antiga, com pundonor, cargas heróicas, bandeiras desfraldadas. Mas não, é coisa rasca, de bufarinheiros e negociatas tão caprichosas como as areias do deserto.