Saturday, May 19, 2012

Os homens das bombas



Passou há dias o aniversário do atentado de 20 de Julho. A generalidade da imprensa alemã rememorou com pormenor os acidentes desse dia trágico, ouviu testemunhas, familiares e amigos de von Stauffenberg mas não cedeu à tentação da mentirinha, esse milho de catequese cívica que se atira às galinhas e patos. Von Stauffenberg foi exaltado como resistente, mas sobretudo como "democrata". Uma mentira; aliás, várias mentiras num pacote de grande mentira. Von Stauffenberg não era democrata coisa alguma e a sua resistência ao nazismo - um governo da plebe, pela plebe para a plebe - argamassava-se no catolicismo, patriotismo, monarquismo e elitismo social. De facto - minta quem quiser mentir - a verdadeira oposição ao comunismo negro (nazismo) foi reaccionária, anti-moderna, anti-democrática, anti-igualitária, anti-liberal e anti-socialista.


Dois dias após a evocação de Stauffenberg, um fulano norueguês fez o que se sabe. De imediato, a inculpação do nazismo -não que os nazistas não fossem capazes e tais coisas - para, juntamente com o rótulo, colar mais duas ou três vulgaridades tiradas das rações pronto-a-comer da "cultura média". O perigo reside, precisamente, na "cultura média", a que não pensa, não argumenta, não lê e não interroga. A cultura média é a cultura totalitária; ali, tudo se reduz ao claro-escuro, ao esquemático, aos afectos e instintos.


O homem da bomba de Oslo pode ser tudo, mas não é um tolo. É isso que incomoda, e como incomoda, há que defini-lo como "louco". Como os loucos são inimputáveis, a loucura é tratada em asilos e não há tribunal que a possa acolher. Estranho, mas talvez não, pois com o julgamento da criatura, com tanta filiação em boas causas e boas associações discretas, corre-se o risco de perder o controlo sobre a dita opinião pública (a opinião que se publica). Repararam, sem dúvida, que do coro inicial de indignações dos cátaros da "democracia" deu lugar ao coro de psiquiatras, psicanalistas, sexólogos e demais sacerdotes das religiões em prática. Estranho, depois de se saber que, afinal, o homenzinho se afirma "sionista", "democrata, anti-nazista, anti-católico e anti-muçulmano.


Von Stauffenberg foi caracterizado pela propaganda oficial como um louco e um traidor. Tecnicamente von Stauffenberg foi um traidor, como tecnicamente foi, também, um terrorista. É assim: se nós gostamos de um terrorista ou de um traidor, passa a resistente e herói. A criatura de Oslo é terrorista e desse labéu só se livrará - trocando-o pelo de louco - se alguém decidir que levar as suas ideias a tribunal poderá concorrer para perturbar as mansas ideias-feitas da plebe. O mundo é confuso !