Saturday, May 19, 2012

As causas, as bandeiras, os afectos e os saberes


Tenho um amigo que se ri como um Bijagós ou um Manjaco do torvelinho de paixões postiças, "causas justas" e "povos em marcha" que se fazem e desfazem com a brevidade das borboletas. Vistosas, coloridas e esvoaçantes, as "causas" promovem abaixo-assinados, levam as suas indignações aos parlamentos, fazem as parangonas dos jornais, alimentam debates e se estão suficientemente escoradas por um dos dois milhões de lóbis que esgotam as entradas de uma enciclopédia, sobem às Nações Unidas e até conseguem transformar as minúsculas causas que as abrasam em cruzadas.
Ontem assisti ao debate televisivo sobre a Líbia. Estavam lá Ângelo Correia, Ana Gomes, uma novinha sem nome e uma outra senhora que participa em tudo, mas cujo nome ainda não tive a paciência de decorar. Falavam com uma autoridade catedrática sobre um país onde, talvez, nunca puseram os pés. Repetem e trepetem o que leram nos jornais: tempestades de palavras num deserto de ideias. Se um dizia mata, o outro acrescentava esfola. Uma das senhoras - a tal que participa em tudo, mas cujo nome ainda não tive a paciência de decorar - ficou eriçada de paixão quando se falou no petróleo que a liberdade e a democracia exigem a troco do derrube do tirano. Falar no petróleo é meter o dedo na ferida. Quando é que começam estes debates sobre a Líbia - a Tailândia, o Burkina Faso ou o Tibete - com uma simples pergunta: "o senhor(a) fala árabe/tailandês/julakan, tem algo publicado sobre o assunto, que título académico possuiu para vir falar como especialista" ?