
Há um correlato directo entre o estômago vazio e a submissão; por outras palavras, quem dá de comer, pode tirar o prato e matar por inanição - sem ter de matar - quem não for digno de confiança, quem não se mostrar suficientemente colaborante ou quem oferecer a mais leve suspeita de resistência à mudança da sociedade. Assim foi com Estaline, assim o foi com Mao. Frank Dikotter, neste Mao's Great Famine: the History of China's most devastating catastrophe, desvela algo de terrífico que por muito tempo se julgou simples efeito de uma inconsciente e lunática política de industrialização acelerada.
Para o autor, o Grande Salto em Frente que custou cerca de quarenta e cinco milhões de vítimas, não foi uma experiência falhada. Foi, antes, um engenhoso mascaramento de um plano metódico de extermínio das populações mais resistentes à comunização. Este trabalho, que nunca será traduzido para a nossa língua - tamanha a reverência de que ainda goza o exterminacionismo comunista - merece ser lido e é, sem dúvida, um dos mais importantes estudos sobre o comunismo até hoje publicados.