
Afinal, Kadhafi não abandonou o seu lugar, foi consequente com a sua promessa de ir até ao fim e morreu ao lado dos seus - daqueles que se dizia não passarem de mercenários, mas por ele morreram - e não viu um só dos seus fraquejar. Uma família inteira massacrada, sem que um só se entregasse, pedisse misericórdia, abandonasse a arma e se pusesse em fuga. É evidente que nasceu uma lenda, que os combatentes que protegeram e se sacrificaram pelo seu líder - tão poucos perante o mar de energúmenos e dos aviões e bombas por nós pagas - entraram já pelo portal da história.
Kadhafi não foi o primeiro nem será o último desses homens enérgicos que se recusaram acompanhar os "ventos da história". Às vezes, ou quase sempre, a coerência paga-se com a vida. Neste particular, Kadhafi foi um exemplo e a sua sombra agiganta-se na comparação com os pobres diabos de fato e gravata que simulam vida nos altares da religião do dinheiro. Como o leão, foi abatido, pois não cabia numa jaula de jardim zoológico e tinha muito que dizer a respeito daqueles que hoje, em nome da democracia - em Washington e Bruxelas - seriam incapazes de arriscar um botão de punho.
A Líbia não se rendeu. Lutou até ao extremo pela sua dignidade e perdeu. Chegou o tempo dos homens práticos, dos negócios e dos pragmáticos, esse outro nome da plutocracia. As sugadoras podem começar a drenar o petróleo !
Na outra dimensão, a dos mitos e das lendas, alguém ter-lhe-á dito: "bem-vindo, Muhamar al-Kadhafi ao mundo dos heróis". Só não compreende estas coisas quem vive derrancado na azáfama dos bazares.