Saturday, May 19, 2012

Salazar em alta


Era o botinhas, riam-se da parcimónia, da lição da "dona-de-casa", do aforrozinho, das galinhas de S. Bento, da paideia da modéstia e da pobreza dignas, da mantinha sobre os joelhos, do pagar a horas, do não te endivides, vive com aquilo que tens, guarda hoje para teres amanhã. Tudo isso foi motivo para desdém e pilhéria revisteira. Pois, éramos ricos, europeus, o trabalho manual era do tempo da "outra senhora", a agricultura uma indignidade, as duas mudas de roupa um insulto. Fomos europeus por duas décadas. Emigrantes ? Isso é coisa do passado. Portugal era um bom aluno, o melhor, pelo que surgiram em sucessivos ciclos o das croissanterias, o dos papéis na bolsa, o dos jovens empresários, o das universidades privadas, o dos cursos do Fundo Social Europeu (tive alunos, num daqueles cursos destinados a formar "técnicos de panificação" que se chamavam Vasco de Mello e Castro Corte-Real, Sofia Didier da Costa Figueira Brunner), o dos montes alentejanos e o dos programadores de computadores.
Hoje, estamos em apuros. Só ouço falar no "compre produtos portugueses", "tenhamos orgulho em Portugal", "não se endividem" e vivam com o que têm. Portugal redescobriu-se. Salazar está em alta.