Estranho que os nossos caros confradres esquerdistas do Jugular e do 5 Dias não se tenham pronunciado ainda sobre o relevante lugar atribuído pelo regime norte-coreano aos falecidos Grande Líder e Querido Líder na história do movimento comunista mundial - considerados sobre-humanos e cujos recitativos biográficos se transformaram em hagiologias - como não façam qualquer exercício de reflexão em torno da elaborada cenografia que rodeia as exéquias, nem se dignem emitir opinião sobre uma teoria do poder cujo mecanismo de transmissão e legitimação se processa por herança familiar.
Para aqueles que sofrem de acessos de liberalismo infantil - doença que está para a direita como o esquerdismo para o comunismo - o poder deve repousar nas mãos de banqueiros. É só. É elemento de toda a evidência que o poder, para os adoradores do dinheiro e dos negócios, serve apenas para fazer "mercado"; logo, tratando-se de "negócio", a transitoriedade da liderança não deve instigar manifestações de afecto. O grave no superficialismo de alguns liberais é a manifesta incapacidade para sondarem o que de mais importante existe no jogo político e na posse do poder. Desconhecem, ou querem deixar de parte, o mistério da vontade de poder e a dimensão religiosa de qualquer concepção política. O comunismo, contraditoriamente, fê-lo e teve quase um século para montar o cenário psicológico que agora atingiu proporções finais na Coreia do Norte.
As cascatas de lágrimas de Pyongyang podem ser vistas como magnífica encenação e carpideirismo, mas são, sejamos mais sérios, documento único para os estudo e compreensão da dimensão sagrada existente em todas as formas de governo, mesmo aquelas que arrogantemente se dispuseram eliminar a religião, substituindo-a pela Utopia do paraíso para cá da morte.
Triunfante fica, pois, a ideia monárquica segundo a qual o Rei não é dono nem Deus, mas também não é negociante, mas sim, natural e humildemente, o rosto humano da comunidade.
PS. Confesso que recebi com perplexidade exaltadas manifestações [epidérmicas] - algumas publicadas, outras cujo nível me obrigam a censurar - que evidenciam incapacidade de pensar os problemas de forma "académica", ou seja, despidos de qualquer "pistis". Este não é um blogue-seita, nem visa cruzadas; não é, decididamente, como os livrinhos da Anita.
PS. Confesso que recebi com perplexidade exaltadas manifestações [epidérmicas] - algumas publicadas, outras cujo nível me obrigam a censurar - que evidenciam incapacidade de pensar os problemas de forma "académica", ou seja, despidos de qualquer "pistis". Este não é um blogue-seita, nem visa cruzadas; não é, decididamente, como os livrinhos da Anita.