A gunboat policy está de novo na moda, na versão "diplomacia cowboy". Um destes episódios tragicómicos - guerras desiguais, gratuitas, sem motivo, fundadas em premissas erradas - foi a invasão de Granada. Dessa estúpida aventura saiu há dois ou três anos livro que me chegou às mãos. É, garanto, um verdadeiro monumento ao elefante em loja de porcelanas em que se transformou o Pentágono. Os EUA parece não conseguirem acertarem uma.Nunca na longa história dos grandes impérios terá havido potência tão descerebrada.
Lembram-se? Em 1983, inventando uma abracadabrante ameaça "russo-cubana" a Granada, ilhota três vezes menor que a Madeira, uma esquadra americana tomou de assalto esse minúsculo território. Diziam os alarmistas que os russos ali estavam a construir uma enorme pista de aviação destinada a uma "agressão comunista" à América central. O Pentágono ofereceu fotos de satélite dessa misteriosa construção, os jornais gastaram rios de tinta para excitar os medos infantis que em revoadas sacodem os americanos. A coisa foi de imediato impugnada. Qualquer turista ou jornalista ocidental podia tirar fotografias in situ à ameaça, que não era ameaça, mas um projecto financiado pela Grã-Bretanha, pela Dinamarca e Alemanha, destinado ao maximizar o potencial turístico da ilha. Depois, invocou-se que tal operação visava resgatar umas centenas de estudantes americanos matriculados na universidade local. Ora, os estudantes adoravam a ilha e a sua população, não eram incomodados e viviam como queriam, entre a praia e as aulas.
Os senhores da guerra deram instruções para que uma grande operação fosse desencadeada. Foi um fracasso do primeiro ao último minuto. Os homens rãs lançados para se infiltrarem no ilhéu morreram afogados (!!!), os dormitórios dos estudantes supostamente detidos foram impiedosamente metralhados pelos helicópteros da US Navy, o Quartel General do inimigo (que por acaso era um hospital), foi bombardeado e destruído, morrendo na chacina doentes acamados, o Governador da Ilha (pois Granada tem como chefe de Estado a Rainha Isabel II) foi detido. Afinal, as baixas americanas resultaram de "fogo amigo", com aviões a bombardear os Marines, os Marines a atingir os Comandos, os Comandos a metralhar os helicópteros. A América é, convenhamos, um país fantástico.