Saturday, May 19, 2012

Pelo bom caminho


Não participo em actividades políticas de qualquer natureza, mas hoje abri uma excepção. Tratava-se de Política e res publica, termos que de tão prostituídos e aviltados, acabaram por se transformar no contrário daquilo que representam: cidadania e vida pública. Em Portugal, custe a quantos se esmeram na arte do ludíbrio das fórmulas,vivemos desde há muito sob a conjugação do jugo da servidão e da anomia dissolvente. 

Quando se perde a relação dos homens com a vida política, quando tudo o que é fundamento institucional, material, espiritual e intelectual se dissipa e em seu lugar se erigem ficções de legalidade e ordem que não chegam aos corações; quando os cidadãos já não reclamam, por medo ou por impossibilidade, aquele direito elementar à participação naquilo que é deles, vive-se em tirania. Não é, certo, a tirania que enche prisões, persegue, executa; trata-se, talvez de uma forma de tirania que se desconhece a si mesma, mas não deixa de ser tirania, por mais benigna que seja. As tiranias contemporâneas privatizam o espaço público, promovem artificialmente elites, condicionam e manipulam a informação e a educação, dão ao dinheiro mais dinheiro e substituem a espontaneidade pelos apaniguados, pelas seitas e pelos grupos informais.

Recentemente voltou a falar-se na Restauração da instituição real. Aqueles que durante décadas haviam desconsiderado a limites de grosseria os monárquicos, assustaram-se pelo retorno da possibilidade. Da anedota, do humor raivoso e do desprezo, passou-se subitamente a um interesse quase suspeito, aproximação que de tão afável e próxima chega a incomodar. É o velho instinto de sobrevivência das oligarquias. Por outro lado, tal gente parece surpreender-se com a firmeza - sempre polida - dos monárquicos, pela demonstração que fazem das suas convicções e, pasme-se, pela notória superioridade que demonstram em todas as ocasiões em que lhes é permitido furar a censura sem nome.

Hoje foi apresentada no Centro Nacional de Cultura a equipa que nos próximos três anos dirigirá a Real Associação de Lisboa. Tudo o que ouvi dos futuros responsáveis é motivo para as melhores expectativas: gente limpa, informada, clara, sem pretensiosas afectações académicas e capaz de aplicar um programa de acção. Está para trás, finalmente, o tempo das fantasias, dos integralismos, das pedaturas e brasonários. Agora vai ganhar corpo a campanha pela adesão de inteligências e corações. Ao grupo dirigente, que incluiu pessoas respeitabilíssimas, só posso desejar o maior sucesso. Estou certo que não desiludirão, pois ali está a mais interessante conjugação de boas-vontades e militantismo no campo monárquico desde os velhos tempos da Nova Monarquia.