Uma profunda comoção terá sacudido esta noite os imponentes traseiros da classe política instalada há mais de trinta anos nos cadeirões da situação, na banca como nas multinacionais, na opinião que se publica, nas empresas fazedoras de sondagens por encomenda, nos meios do dito liberalismo obcecado pela globalização plutocrática. A maioria silenciosa dos pequenos, dos sempre preteridos, dos que não vivem dos favores nem dos concursos públicos manipulados, aqueles postos à margem pelos profiteurs das riquíssimas ONG's da filantropia paga; em suma, aqueles que vivem fora do aquário, vingaram-se e forçaram a porta do banquete sempre posto à mesa da oligarquia sem cérebro e sem mérito.
A França é um país culto e demonstrou hoje que não quer ser como os EUA - a Meca dos negócios - como recusa as chamadas democracias do consenso, confiscadas ad usum bobos (bourgeois). A mise-en-scène estava feita, mas desfez-se perante a imponência dos resultados. Havia três candidatos (Hollande, Sarkozy, Marine) e três auxiliares destinados a cargos ministeriais. Bayrou queria ser primeiro-ministro de Sarkozy, Melénchon estava indicado como ministro dos Assuntos Sociais de Hollande e a estranha Eva Joly - que fez campanha apelando a Hollande - saiu da noite com o apodo de Senhora 2% colado nos verdes óculos ecologistas.
O maior derrotado da noite dá pelo nome de Mélanchon. Trata-se de um homem duro e agressivo, senhor de carisma indiscutível, mas de arrogância imensa. Deixou-se intoxicar pelo papel de coqueluche mediática, reuniu os seus partidários em Stalingrad - insistindo nos mitos falidos - e não obteve o voto daqueles que queria (a classe operária, que votou Marine), mas o voto do chique-gauchiste bobo. Aqui como lá, uma burguesia a puxar ao avançado a votar por causas que lhe cortariam cerce o pescoço.
O maior derrotado da noite dá pelo nome de Mélanchon. Trata-se de um homem duro e agressivo, senhor de carisma indiscutível, mas de arrogância imensa. Deixou-se intoxicar pelo papel de coqueluche mediática, reuniu os seus partidários em Stalingrad - insistindo nos mitos falidos - e não obteve o voto daqueles que queria (a classe operária, que votou Marine), mas o voto do chique-gauchiste bobo. Aqui como lá, uma burguesia a puxar ao avançado a votar por causas que lhe cortariam cerce o pescoço.
As eleições presidenciais, para além dos resultados objectivos, transportam matéria para oportuna reflexão. Em primeiro lugar, o fim dos mitos mobilizadores da cultura esquerdista. Os mantras e as fórmulas já não funcionam, a diabolização dos adversários já não surte efeito, a autoridade dos intelectuais caiu a extremos de caricatura e o medo instilado - muitas vezes com insultos aos que não votam conforme - desapareceu. Perdeu-se, também, a reverência pelas crenças e liturgias do liberalismo. O liberalismo, tal como tem sido aplicado, mostrou a que ponto a exaltação do individualismo e o livre-freio concedido ao "mercado" se esgotou. Os homens não podem ser deixados à solta. Não há dúvida que a necessidade de um Estado forte, presente e atento, surge como corolário após vinte anos em que o Estado quase desapareceu e se especializou em roubar pelo tributo para manter um modelo fundado na injustiça, no apoio aos madraços e na destruição sistemática de todos os pilares que justificam a existência de uma sociedade politicamente organizada.
Os resultados não devem infundir medo, nem apreensão, mas alívio; alívio por que as democracias continuam a funcionar e os cidadãos se sabem sobrepor à manipulação e ao condicionamento. O resultado obtido por Sarkozy, o Americano, constitui punição exemplar. Contudo, o seu concorrente Hollande parece não ter conseguido o que se esperava. Figura frágil, um pequeno homem quase insignificante, mantém-se agarrado às estafadas promessas de um Estado dito social que se confunde com pão e circo, em vez de ser agente de promoção dos valores do trabalho, do mérito e da equidade.