As vaias e insultos dirigidos a Passos Coelho fazem um programa. A indignação de alguns vaza-se num Primeiro-Ministro que comete a imprudência de relatar ao país a situação calamitosa em que 37 anos de governos corruptos e demagógicos nos precipitaram. Que eu saiba, Passos Coelho foi único a não recorrer à mentira, ao populismo e à propaganda. Isso paga-se caro. Os portugueses, que não viram, não quiseram ver e tudo fizeram para chegarmos ao descalabro presente - queriam ser ricos, sem trabalhar; tiveram milhões e milhões e gastaram-nos em jipes, cartões de crédito, trapos e apartamentos que não podiam pagar - esquecem-se da galeria infinda de crápulas, idiotas rapaces, locupletadores e bandidos sorridentes que centuriaram pelos seus os dinheiros oferecidos a fundo duplamente perdido pela injustamente caluniada Merkel e seus predecessores. Foram décadas de mordomias e sinecuras, milhares de milhões enterrados em elefantes brancos, pagos a amigos e camarilhas, das câmaras às juntas, às fundações e institutos, betoneiras, futebóis, viagens e lugares destinados a "grandes senhores" e "grandes senhoras" que nunca estudaram, nunca trabalharam e a isso se habituaram.
Os meninos indignados - essa burguesia inútil, reivindicativa e parasitária produzida por um regime que acanalhou os portugueses até às fezes - podiam por de lado os seus ipod, as mesadas dos pais que os alimentaram e pagaram os estudos até aos 30 - e fazer uma revolução a sério. Não, essa gente não vai fazer revolução alguma, pois em Portugal, as revoluções não passam de alterações à ordem pública, começam às 10 e acabam às 13, quando a fome convida a uma passagem pelo fast food.
É uma cobardia insultar um homem público no espaço público, sobretudo quando se tem a quase certeza da impunidade. Passos Coelho, pelo menos, não está indiciado em terríveis casos de roubo organizado, não fugiu para o estrangeiro e tenta, talvez tolamente, ser fiel ao seu fardo.