

A ideia de felicidade em articulação com a de natureza pródiga só podia ser interpretada como possibilidade de intervenção técnica (económica, industrial) em favor do homem. Passou-se da interpretação teológica da natureza para a teleologia da felicidade e do Paraíso ao alcance da mão armada com a tecnologia. Era o progresso. O progresso trouxe mais vidas, multiplicou-as, trouxe mais comunicação, máquinas, informação, cidades, consumo. Trouxe tudo, até dinamite, metralhadoras, campos de concentração, combóios de morte, cidades crescendo como metástases de cancro.

Para controlar as forças do progresso, o Estado tornou-se mais forte, cresceu sobre os homens e as sociedades. Cresceu em polícias secretas, em vigilância, bilhetes de identidade e passaportes. A violência passou a ser impessoal, coisa de massas e em nome destas nasceram as ideologias da felicidade colectiva contra a felicidade dos indivíduos. Foi necessário inventar as guerras totais para pôr fim às ideologias totais. A bomba atómica p arecia ser a última ratio da irracionalidade lúcida. Esperavam que, depois de Hiroshima, se voltasse à felicidade. Ora, a natureza, voltou a ser mal, destrói a presunção da potência humana e a tecnologia vai matando o planeta. Onde antes havia o bárbaro especializado no ferro das espadas, temos hoje os novos bárbaros manipulando as gónadas e os átomos. Conseguiram ? Pois, olhem para o Japão. Estamos a assistir em directo ao fim da tradição racional ocidental.
Assisti há minutos a uma intervenção de Patrick Monteiro de Barros cantando hossanas à tecnologia. Registo velho do optimismo do homem-deus, tão velho como Comte ou Júlio Verne. O discurso soa a exultação fingida. O homem fala em "crescimento", "desenvolvimento" e mercado como se tais coisas fossem um bem em si. Sim, no fundo, na perspectiva dele, tem razão: dinheiro, negócios e mais nada. Que venham uns Virgilios e se calem, de vez, os bárbaros da baixa feitiçaria.
Assisti há minutos a uma intervenção de Patrick Monteiro de Barros cantando hossanas à tecnologia. Registo velho do optimismo do homem-deus, tão velho como Comte ou Júlio Verne. O discurso soa a exultação fingida. O homem fala em "crescimento", "desenvolvimento" e mercado como se tais coisas fossem um bem em si. Sim, no fundo, na perspectiva dele, tem razão: dinheiro, negócios e mais nada. Que venham uns Virgilios e se calem, de vez, os bárbaros da baixa feitiçaria.