Saturday, May 19, 2012

Os livros deixam de ser nossos

Bangkok, feira do livro, stand da universidade de Chulalongkorn.

Ao finalizar um livro, o autor deixa de brincar aos pequenos deuses da criação efémera e passa a réu de tudo o que não conseguiu exprimir: das falhas e erros que cometeu, das omissões e, até, de uma ou outra gralha incómoda e traiçoeira que pousou no papel pintado com tinta. É bom ver um livro nosso à venda em livrarias distantes, comprado e lido por pessoas que nunca vimos. Há quem odeie os livros, há quem os queime e rasgue, quem os atire para um canto. Porém, basta que uma só pessoa que não o autor os folheie, critique ou aplauda para valer a pena o esforço. Hoje, em Bangkok, um, dois ou dez tailandeses levaram para casa um livrinho que tenta provar a prioridade portuguesa na abertura do Sião ao mundo contemporâneo. Só isso me enche de energia para fazer o próximo, o tal que prometi terminar e editar este ano. Depois, posso dizer adeus à escrita e voltar ao tempo em que não tinha deveres imperiosos. No fundo, tudo na vida se resume a "perder ou não perder a face". O homem deve ser o único animal que procura voluntariamente a servidão.