Saturday, May 19, 2012

Manners before morals



Sou absoluta, incuravelmente apartidário e digo que só há, na ordem pública, um "inteiro" a que devoto a minha lealdade. Esse inteiro é Portugal. Não voto, não faço parte de grupos e chefes só tenho aqueles que me ensinam algo - chefes sem outro poder que o da palavra e dos olhos cansados pela leitura - pelo que não devo favores, não os peço nem os posso dar em espécie. Isso permite-me alguma liberdade, a suficiente para comparar comportamentos. Dizem muito mal de Sócrates, mas verdade seja dita que num regime como este, entregue a gente que mal sabe empunhar um garfo e uma faca, o Primeiro-Ministro será dos poucos que acusa a recepção de cartas, as responde e diligencia para que informações sejam transmitidas aos ministérios e serviços do Estado. Cheguei, por razões profissionais, a escrever a directores-gerais cartas com aviso de recepção, das quais nunca recebi o mais insignificante eco.


Como dizem os ingleses, "manners before morals", ou seja, um pouco de educação antes de coisas mais insondáveis. A Sócrates devo esse agradecimento. Por três vezes ao longo dos anos a ele me dirigi e por três vezes me respondeu. Kop Khun Krab (obrigado em tailandês) - que se exprime juntando as mãos em atitude de oração. Acresce que, por razões de natureza empresarial, por meia-dúzia de vezes o tive como cliente e a imagem que deixou junto do meu pessoal foi, sempre, a melhor. As pessoas gostam de generalizações, do claro-escuro e dos furores difamadores. Eu prefiro contrastar, observar, matizar. No que à atitude respeita, deve ser caso único na classe política desta terra. Sócrates tem manners. É o que me interessa.