
Encontrei por mero acaso um texteco intitulado "O Nepal e as epopeias tradicionais de um povo", editado em separata do Boletin de la Associación Española de Orientalistas e da autoria de um "académico" português. Merece ser lido; aliás, merecia ser queimado para bem do autor. Se um dia eu tivesse assinado tal coisa, pedia encarecidamente a qualquer amigo que deitasse a mão a tamanha nódoa e a fizesse desaparecer. De coisas destas diria o meu velho amigo Augusto Mascarenhas Barreto tratar-se de lixo quimicamente puro, não merecendo que lhe ponhamos os dedos, nem tão pouco as narinas. Porém, tratando-se eloquente instantâneo da queda da universidade, da demissão da inteligência e do iletrismo cavernícola que conquistou editoras, prémios, bolsas e faculdades, dá-nos que pensar como foi fácil fabricar a geração rasca e, logo, empurrar-nos para a débâcle em que nos encontramos.
O texteco foi "produzido" - importa usar o palavrão, a cheirar a sovaco de fato-macaco - em 1988, pelo que se espera que o escriba tenha feito alguns progressos. Ali está tudo o que em "letras" se ensinava: ridicularizar, encontrar "ideologia", decantar "processos de exploração" pela "desconstrução do discurso do colonizador".... Quanto à proficiência do autor para o domínio do nosso idioma escrito, dar-lhe-ia, no máximo, 5 valores. Ora, quem não domina a língua, não pode pensar. Chumbo garantido.
Fiquem lá, então, com umas cascas fedorentas da prosa:
"Desde praticamente o século XVI que a Europa procurou subjugar, pela sua pretensa superioridade, o homem asiático. (...) Dotado de uma amição desmetida, o europeu em breve passava a pretender dominar, também, o interior da Ásia. No que respeita ao caso português, o Nepal e o Tibete (para além do interior da própria Índia) foram alguns dos alvos preferenciais no Oriente. (...) Todo o tipo de evangelização europeia assentava no pressuposto da dominação nesses tempos primeiros da colonização portuguesa no continente asiático. (...) Pressupostos da actuação europeia: a pólvora, o padrão, a Bíblia, a escrita".
"A pretensa superioridade técnica dos europeus (em relação aos asiáticos) assenta num aspecto cultural e sócio-linguístico. Onde chegam, sobretudo em regiões costeiras - o autor quererá dizer ao Nepal e ao Tibete ? - os nossos colocam o padrão das quinas, como significante de terreno conquistado à descrença dos infiéis. A Bíblia é a alegoria da conquista, a tradução superior(izada) de uma tradição escrita, de um código linguístico (semiótico) de sinais".
"Tal conquista, porém, só é possível, na maioria dos casos, graças a um uso concentrado da força. É então que tem lugar a utilização da pólvora. E aí o jogo desleal, o jogo da iniquidade, ganha expressão".
Todo o texto é ilustrado com diagramas/fluxogramas daqueles das macacadas das semiologias. Num destes desenhos, a legenda "povos indefesos". Ri-me até às lágrimas a pensar nos chineses (e nos indianos) na sua terra, a 10.000 km de distância da Europa, no século XVI... indefesos perante 500 ou 600 portugueses. Há problemas irresolúveis. Um deles é o da estupidez humana, o mais difundido mal que afecta a espécie.