
Os retratos fotográficos que a nós chegaram de Mongkut (1804-1868), quarto Rei da dinastia Chakri, destoam da personagem caprichosa e mundana que o cinema popularizou no The King and I, o musical de Rodgers & Hammerstein, de 1955, baseado nas dúbias memórias de Anna Leonowens. Mongkut não era, decididamente, Yul Brynner, como não era igualmente nem Rex Harrison, nem Yun-Fat Chow. As fotos de Francis Jitr tiradas na década de 1860 apresentam um homem seco de carnes, de pose hierática, rosto precocemente envelhecido com as comissuras descaídas e olhar baço e desconfiado procurando vencer o desconforto do assédio da objectiva da câmara. O verdadeiro Mongkut passara vinte e sete longos e esforçados anos entregue aos rigores da vida monástica e só chegou ao trono abeirando-se dos cinquenta anos de vida. No templo fez a escola que o palácio não podia facultar. No palácio, o Rei vivia em exclusão. No templo, Mongkut tinha por companheiros camponeses, artesãos, nobres e comerciantes, homens que haviam morrido para o mundo e renascido para uma vida de oração e estudo numa comunidade de iguais. Com eles andava pelas ruas de Bangkok mendigando a comida matinal, viajando pelo interior, ensinando, meditando, discutindo e lendo de templo em templo.

Quando ascendeu ao trono, Mongkut chamou para junto de si um jovem luso-descendente a quem davam a alcunha de Jitr (Jitr= arte), que vivia no bandel de Santa Cruz de Thonburi. O rapaz, filho de um militar católico, parecia dotado para essa misteriosa técnica de captação de imagens que um padre francês trouxera para terras do Sião. Fez-se fotógrafo da corte, montou estúdio numa casa flutuante e passou a receber meio-Sião. Francis Jitr, assim se passou a chamar - dando um toque cosmopolita ao portuguesíssimo nome de baptismo - fez fortuna e nome. Fotografou o Rei e a corte, os hierarcas budistas, os capitalistas chineses, os aventureiros europeus e até o primeiro eclipse solar total de 1868. Morreu em 1891 e passou testemunho ao seu filho mais velho, o primeiro siamês a cursar artes técnicas na Europa, bem como à sua filha Soi, a primeira fotógrafa do Sião. A fascinante história dos portugueses na Tailândia está a vir à luz do dia .
Hora a hora, o conhecimento da história dos portugueses no Sião melhora !