Saturday, May 19, 2012

Não há pontes longe demais: 1640 dias da minha vida


Foram mil seiscentos e quarenta dias, cerca de sete mil horas de leitura em arquivos e bibliotecas, duas mil horas de escrita. São 500 páginas. A tese que me queimou os olhos e pela qual jurei a quem em mim confiou tal responsabilidade - o meu orientador, a Fundação Gulbenkian - passa a agora por acelerado processo de tradução, pois que o júri será internacional e importa que a coisa portuguesa - na sua abundante safra de fontes, às quais adicionei centos de documentos em thai - seja conhecida. Uma grande prostração invade-me o espírito e o corpo. É reconfortante quando as mais intensas batalhas, às quais nos devemos entregar sem condições, terminam em bem.
Os meus leitores compreenderão certamente uma alegria que gostaria de partilhar com quantos, não me conhecendo, me concedem o privilégio da sua visita, da sua crítica ou anuência a pontos de vista que nem sempre compaginam com aquilo que parece bem dizer. No que à tese respeita, era voz corrente que pouco mais havia a dizer sobre as relações luso-tailandesas. Outros haviam abordado o assunto e pronto, estava tudo dito. Ora, não há nada que seja definitivo. Pelo caminho, localizei mais de 1000 documentos jamais lidos por outros que me precederam, tentei reconstituir procedimentos, práticas, incidentes diplomáticos, reinterpretar tratados, dar vida a portugueses há muito mortos. Prometo que a todos convidarei para o lançamento da obra.
É estúpido, mas ao terminar esta luta silenciosa, só me ocorreu aquela fita da Ponte Longe Demais. Mas a essa ponte consegui chegar.

                                                                                                                               Miguel Castelo-Branco

P.S. Obrigado a todos quantos deixaram mensagens (14), assim como a nove amigos que endereçaram votos de felicitações para a minha caixa de correio.